Crescer

17-01-2018

Enquanto bebé, o mundo resumia-se ao berço e aos braços das pessoas que me pegavam ao colo. Todos me davam atenção e a razão para existirem era o meu bem-estar.

Ao evoluir para criança, o mundo aumentou significativamente em dimensão mas deixei de ser o centro das atenções. Verifiquei que cada adulto tem a sua vida e que eu era uma das muitas atividades que tinham na agenda. No entanto existia sempre quem tinha quase sempre disponibilidade.

Na adolescência foi o tempo de brincar aos adultos. Ter opiniões, muitas certezas, todas as verdades do mundo. As ações começaram a ter consequências, umas mais graves e permanentes do que outras. Ainda nesta fase tive de escolher o que queria fazer no resto da vida. Ou, pelo menos, assim me era apresentado. Já não me podia refugiar na tenra idade para fugir ao que tinha de fazer.

O estado supostamente adulto veio com o peso da irreversibilidade. A morte de pessoas que sempre tinha visto como imortais tudo mudou. A vida passou a ser mais séria e sombria, sem grande magia.

Veio a paternidade que mudou, mais uma vez, tudo. Tinha nos braços alguém que dependia completamente de mim. Uma responsabilidade assustadora e fascinante. Estava nas minhas mãos repetir os erros que tinha julgado tão severamente.

Com o tempo parece que tudo se vai aproximando e relativizando. Olha-se e vê-se mais longe. Vê-se mais claramente o ciclo da vida e começa-se a aceitar que assim é. Muita coisa não depende de mim mas posso ajudar a empurrar num sentido ou noutro. Não sou o centro das atenções como fui, só mais uma peça que existe por um período limitado.

No futuro existirei enquanto alguém se lembrar que existi. No princípio será das coisas que fiz, depois da data em que morri e fiz anos e, no fim, quando for encontrado em alguma fotografia antiga. Chegará o tempo em que ninguém se lembrará, então aí, nunca terei existido.